domingo, 12 de junho de 2011

TEMBE UM THINK TANK EM FRANCO CRESCIMENTO


 



Identificado o ano passado como um daqueles think tank locais por descobrir e valorizar, à imagem de muitos outros pelo país fora cujas reflexões e ensinamentos clamam por uma absorção a bom de políticas públicas eficazes, Chez Tembe tem vindo a registar um franco crescimento e à grande velocidade. Prova disso são as solicitações de convites, para participar dos eventos, por parte de celebridades de que Rui de Carvalho, um dos protagonistas do clube tem sido alvo. Depois da passagem de Ziqo, muito concorrida pela criançada e jovens da Polana Caniço, Chez Tembe prepara-se para receber o artista MC Roger, também conhecido por patrão. 
O crescimento deste centro de reflexão que nasceu numa barraca informal é notável pela qualidade dos temas discutidos e nível de reflexão dos protagonistas que por ali passam. O espaço já começa a ser muito exíguo e a clamar por uma reabilitação para responder a dimensão que acaba de ganhar.
No menu dos debates do primeiro semestre deste ano coube espaço para vários temas candentes, entre os quais o papel da imprensa num país democrático, as revoluções no Médio Oriente e na África do Norte com destaque para a Líbia. A problemática de uma melhor partilha da riqueza mundial também não escapou a análise.
Conta-se entre as figuras que já passaram no Tembe, Ministros, assessores do Governo, políticos de várias cores partidárias, directores e editores de jornais, líderes de organizações da sociedade civil, jornalistas, músicos de renome, além dos próprios amigos e vizinhos do Tembe.
Sobre o papel da imprensa na edificação da democracia em Moçambique os participantes do fórum comungaram a ideia que nenhuma imprensa no mundo pode ser totalmente imparcial. A designação de imprensa independente, por oposição a órgãos oficias não quer dizer necessariamente que não haja relação com alguma forma de poder, a media em si sendo uma forma de poder. Daí que o jornalista deve ter consciência do seu papel de informador de uma sociedade mas também de educador e por vezes de mediador ou árbitro do debate público, devendo por quanto pautar por uma grande capacidade de isenção respeitando os leitores, as fontes de informação e apresentando os factos e não a interpretação dos factos como se fossem a verdade.
Um líder de uma associação Juvenil alertou para o risco da produção uma certa forma de jornalismo andrajoso, nada bem-vindo ao estágio de democracia para o qual Moçambique vem crescendo. Um país que apesar de todas as dificuldades tem pautado por uma convivência plural com os jornais na liderança a informar e condenar tudo o que vai mal num exercício aberto de debate público diferentemente de outros países do mundo em que os fazedores de informação são sistematicamente molestados e condenados só porque ousaram criticar um sistema.
Desafio a Ban Ki-Moon
Segundo estudos, de uma população de quase sete mil milhões de habitantes que fazem o planeta terra, três mil milhões vivem com menos de três dólares ao dia e em condições de extrema precariedade.
A pobreza no mundo inteiro mereceu uma atenção especial com um dos participantes ao debate do Tembe a desafiar Ban Ki-Moon e as Nações Unidas com uma proposta bastante revolucionária. “ o Homem é que inventou a máquina de fabricar dinheiro, é o homem que fabrica dinheiro. Então por que não fabricar dinheiro suficiente para dar a cada família do mundo 100 mil dólares? Isto acabaria com a pobreza ou pelo menos ninguém poderia se queixar por falta de dinheiro pois cada um terá a oportunidade de pegar o suficiente de uma única vez”. Cada família teria a responsabilidade de saber fazer o melhor uso com o dinheiro alocado para iniciar seu negócio ou depositar num banco, por exemplo.
Os mais pessimistas viram na ideia não só uma ofensa aos critérios estabelecidos para a produção do dinheiro mas também um grande risco de inflação enquanto os mais progressistas viam na proposta uma boa maneira de se avançar para uma melhor partilha das riquezas existentes no mundo, que são aliás detidas por uma pequena minoria. Facto que a imprensa internacional viria a corroborar com a publicação da lista dos homens mais ricos do mundo num total de alguns 1200 bilionários, na sua maioria americanos.
Revoluções no Médio Oriente e África do Norte
Os participantes encontram nas causas das manifestações violentas que levaram a queda de regimes no Egipto e na Tunísia e a eminente queda de outros dirigentes, não só a problemática da precariedade mas também o desemprego e a privação de liberdade a que maioria dos povos em convulsão foi exposta durante dezenas de anos. Nalguns casos os participantes lamentaram a fraca intervenção dos dirigentes do continente africano para condenar atrocidades que estavam a ocorrer sob pretexto de manutenção da ordem, segurança e soberania de Estados. Trata-se aqui de assuntos complexos que viriam a complicar-se no caso da Líbia que entrou numa verdadeira guerra civil e como se não bastasse com uma cereja sobre a bolo com as Nações Unidas a autorizarem uma coligação dirigida por países ocidentais a lançarem ataques contra o regime líbio acusado de massacrar o seu próprio povo. Os participantes lamentaram medidas desproporcionais para problemas semelhantes com os interesses estratégicos, neste caso o petróleo a pesar bastante.
Van Dame e Rambo são muito caros
Rui de Carvalho, Director do Público, não perdeu a ocasião para deixar a lembrança de seu vizinho a conversar com o filho onde este último perguntara ao pai afinal por que não se levava Van Dame e Rambo a prender Bin Laden. Pergunta a qual o pai muito seguro de si respondera que eram muito caros e os americanos não tinham dinheiro para pagar. Tudo para mostrar a representação que nos oferece da vida o cinema, aliás esta conversa mostra alguma verdade pois temos assistido a cenas em que mercenários são destacados para trazer homens muito procurados para responderem à justiça. E os mais recentes desenvolvimentos vieram provar na realidade esta representação viva do cinema com forças especiais americanas a intervirem no Paquistão para encontrar Bin Laden, aquele que era o homem mais procurado do mundo, na sequência do atentado de 11 de Setembro.
Muita tinta tem corrido a volta do conflito que opõe o ocidente e forças ditas extremistas islâmicas, muitos actores não hesitando a comparar com a reedição das guerras santas e cruzadas de então. Simplesmente o mundo anda de pernas viradas para o ar, tanto é que para leigos já nem se sabe ao certo quem está na sua razão. A consubstanciar, no caso de Saddam Hussein, condenado à morte em conexão com crimes de guerra, até Tony Blair e George Bush, protagonistas da intervenção, reconheceram ter havido falhas no processo das armas de destruição massiva, usado como principal móbil no ataque contra o Iraque. 
Rui de Carvalho o federador
Moisés Tembe não fica atrás. Afinal é ele o proprietário daquele espaço muito especial que já se tornou referência. Tem a paciência e o cuidado de nos servir boas sopas, petiscos de patas com tripa de galinha e às vezes aquele peixe da água doce que vem da Corrumana. É tudo muito rápido e saboroso. O que seria de nós sem o bom petisco e a simpatia do amigo Tembe?
Mas o verdadeiro arquitecto dos debates é Rui de Carvalho que consegue reunir amigos, colegas e personalidades a sua volta. Não conhecemos nenhum inimigo deste grande jornalista da nossa praça, o qual com o seu canhão não deixa nada passar. É pena estarmos presentes e não podermos contar a história no presente. Mas um dia dirão as futuras gerações nos anos 90/2000 nasceu em Moçambique um jornalismo independente e uma sociedade civil forte, que em conjunto muito terá feito para aquilo que será o país que temos sonhado. Nomes como Salomão Moiana, Rui de Carvalho entre outros, estarão gravados como um dia gravámos para sempre os nomes dos irmãos Albasini, fundadores do jornalismo moçambicano, Ricardo Rangel, José Craveirinha, Albino Magaia, entre outros.
É grande honra podermos ter o Rui de Carvalho como fundador do Público e como mediador nos nossos debates que conseguem eco nos demais leitores do semanário que dirige. Na pessoa que se confunde o jornalista e director do Público o homem tem conseguido desdobrar-se, indo ao povo e ao dirigente, passando pelo burguês que nem devia se assumir como tal porque afinal estamos num país que se orgulha do pouco que tem apesar de sofrer carências.
Rui de Carvalho vem lutando no meio de todas dificuldades para construir o tal jornalismo de desenvolvimento com o qual nos reconhecemos e nos empenhamos totalmente. Ninguém gostaria de estar na pele do ministro das dobradas ou então das bananas e demais, porém não havendo fumo sem fogo, mesmo a brincar continuaremos a desvendar tudo o que os nossos concidadãos devem aprender doa a quem doer. Rui de Carvalho nunca se esquece da sua passagem como estagiário pela AIM e do seu grande mentor, Carlos Cardoso, de quem muito aprendeu.
Ziqo provou merecer fama
A fama é a maior inimiga da criatividade e do artista. Contrariamente à alguns famosos que perdem a cabeça, excedem-se ao ponto de esquecer de onde vêm e para onde vão, Ziqo provou merecer a fama e simpatia que granjeia na juventude moçambicana. É tido como o fundador da música Pandza, aliás aceita ter inventado o nome, mas não reivindica nenhuma forma de reconhecimento: “só sei que sou autor e dono das minhas próprias músicas”, afirma humildemente. 
As pessoas apreciam muito quando os famosos descem cá para o terreno e encontram a realidade de todos os dias. É isso que algumas das proeminentes figuras que visitam o Tembe têm mostrado cada vez que por ali passam. Ziqo não fugiu a regra e por isso deu-se muito bem com aquela criançada do Bairro da Polana Caniço a pedir autógrafos, uma pose de fotografia e a querer vê-lo de perto. Ziqo podia muito bem ser usado em muitas obras, em particular para ajudar as crianças a gostar de estudar. É que com a fama que ostenta e mostra merecer, ele só pode influenciar no sentido positivo.   

In Jornal Público ed.118

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ministráveis, dêem-lhes o tacho


A fórmula já é bem conhecida. Pessoas de grande potencial intelectual, geralmente bem formadas e competentes em determinadas áreas do conhecimento encarnam uma grande missão, dão a cara e começam a fazer barulho, disparando em todos os sentidos até darem nas vistas.
Como estamos num país aberto, o que acontece é que em vez de serem eliminadas pelo famoso sistema como muitos dos que não ousam dar a cara temem, essas vozes sonantes que aparentam distanciar-se dos métodos do governo dia, são promovidas a funções de direcção. Foi assim que muitos passaram a presidentes de assembleias, a ministros, a governadores, a PCAs, a dirigentes de grandes empresas, a directores.
Mas a concorrência é grande e como dois corpos não podem caber no mesmo lugar, muitos potenciais chefes ficaram de fora, estando ainda à espera da sua hora para colocarem à prova os seus ditados e predições sobre o desenvolvimento.
Ao longo dos últimos anos, não nos faltarem decepções com todos aqueles que um dia foram para as grandes lides. Decepções por estes não terem continuado com aquela fibra, aquela força de ataque para enfrentar tudo aquilo que prometiam mudar através das fórmulas mágicas que prediziam, antes de serem cooptados. Daí que não escape um certo olhar de desconfiança com relação aos discursos daqueles que andam ai a criticar a torto e à direito e de forma desajeitada.
De forma desajeitada porque muitos deles esquecem-se que um dia foram assessores ou consultores na origem de muitas teses e políticas desenvolvidas neste país. De forma desajeitada porque muitos deles dirigem instituições de relevo, mas parecem insatisfeitos com o tacho ao ponto de porem em causa o sentido de uma agenda nacional insurgindo-se veementemente contra a viragem proposta por um grande líder, para de seguida virem a público anunciar-nos as suas ideias genuínas, as melhores de todas!
Pensam que o governo é surdo, não lhes escuta e devem estar muito zangados, por isso é que agem dessa maneira. Mas urge e mais do que nunca fazer-se um inventário destes potenciais chefes – os ministráveis para estudar a possibilidade de lhes dar o lugar que bem merecem, apesar das suas formas de intervenção não se revelarem, pelo menos para nós, as mais correctas, sobretudo por estarmos perante intelectuais que, logo, ao invés de pretenderem, como acabam o fazendo, se mostrar sabichões das matérias, deveriam ao contrário, contribuir modestamente quiçá negociando e partilhando os conhecimentos que detém. Água mole em pedra dura tanto bate até rachar!
Vai custar no orçamento, mas podemos criar novos ministérios e secretarias de Estado para acomodá-los e sobretudo pô-los a trabalhar. Eles merecem um voto de confiança, para esperamos nós, provarem o que são capazes de mudar de facto nesta luta contra a pobreza que tanto se impõe.
Mas, caros amigos, oiçam os seguintes conselhos: quando chegar a vossa hora, por favor não se esqueçam das promessas que um dia fizeram ao povo e prestem muita atenção à declaração daquele ministro de François Mitterrand que queria se opor ao envio de tropas francesas ao Koweit em 1991: “um ministro deve saber calar a boca ou vai à rua”. Não se esqueçam também que a mudança exige o imperativo de conhecer as coisas, o funcionamento do sistema. Se quisermos mudar sozinhos sem os nossos colaboradores e parceiros a mudança não terá efeito e não será sustentável. Perguntem o Tsunami e ao seu sucessor a quantas vai a mudança no sistema nacional de saúde. Faltam-nos, claro, os medicamentos mais básicos, mas pelo menos ganhámos uma coisa, os hospitais andam mais limpos. Será que isso vai durar? Bem gostaríamos. 

In Jornal Público ed.104,pag.06

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Convite a um homem de Estado


Nos anos 90 desenvolveram-se com intensidade novas abordagens de governação, particularmente, mais viradas para a participação popular. Houve a compreensão, embora estejamos a experimentar os limites dos modelos, de que a aplicação de métodos governativos participativos, em que as comunidades beneficiárias e os diferentes actores, agora baptizados de parceiros, tenham sentido de pertença das coisas e dos processos, era o segredo da implementação bem-sucedida de qualquer reforma e intervenção pública.
Viu-se também que a adesão aos projectos dependia muito da capacidade dos líderes responderem a um certo número de expectativas, particularmente, em relação aos ganhos que cada um pode tirar de participar num vasto programa de mudanças. 
O famoso win win passou a ser um conceito popular nos meios políticos e também dos negócios. Simultaneamente, vieram sedimentar-se abordagens visando um desenvolvimento sustentável além de outros valores humanísticos de natureza extremamente progressista que encontram algum sentido de clareza de expressão na declaração dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio em 2000, com a totalidade dos países membros das Nações Unidas a se comprometerem para edificar uma sociedade mais justa, livre das guerras, das doenças, da ignorância e sobretudo mais consciente da necessidade do uso racional dos recursos disponíveis.
O imperativo de uma parceria global para o desenvolvimento que não faria sentido sem redes locais reapareceu como um factor incontornável da luta contra a pobreza. 
O convite que queremos formular é dirigido ao homem de Estado e não ao homem político. Apesar de podermos encontrar numa mesma pessoa os dois perfis, a diferença que se quer marcar reside no facto de se acreditar que os homens de Estado apostam numa projecção do bem-estar de suas populações enquanto os políticos só olham para os projectos que lhes permitem saciar suas ambições políticas a longo prazo.
Joaquim Chissano a quem o destino quis que ficasse no poder 18 anos, foi quem a comunidade inteira aclamou e com muita admiração quando decidiu não se candidatar a mais um mandato. Na altura, provavelmente, estivéssemos a precisar de ver novas caras, mas ficou claro à partida para muitos, que Chissano tinha lançado a primeira pedra de muitas obras que ficavam por concluir. Com efeito, durante o seu mandato o ex-presidente da República foi mentor de vários programas, com destaque para a entrada do país na sociedade da informação e da comunicação que viria a massificar-se graças à promoção da educação para todos e das NTICs.
Foi Chissano que lançou pela primeira vez a ideia de parceria inteligente, por vezes mal interpretada. Ouvimo-lo como um camponês que não consegue a colheita, a lamentar que a quantidade e qualidade dos graduados do ensino superior não está a se fazer sentir nos sectores de que o país mais se ressente, na luta contra a pobreza.
Muita coisa pode explicar o insucesso na capacidade de absorção e capitalização do conhecimento que já dispomos. Uma delas é o facto de não estarmos a conseguir ainda criar mercados e indústrias, mesmo naqueles sectores em que o país é altamente potencial. Mas para nós, um dos factores que parece fulcral que pode aliás reverter a situação em muitas áreas, é a problemática da parceria.
A parceria não se ensina como tal, segundo um método pedagógico. Ela nasce como que espontaneamente e as pessoas que a praticam tiram as vantagens de poder contar com a ajuda de outras pessoas na resolução de problemas que individualmente nunca conseguiriam. Vê-se na pareceria a imagem de redes de pessoas trabalhando e comungando valores de ajuda mútua à volta de projectos individuais, profissionais ou comunitários. É o que está a faltar nos nossos dispositivos, cada um jogando individualmente como se não existisse uma equipa.
Gostaríamos de convidar Joaquim Chissano a retomar a ideia que lançou e a encontrar seguidores para alastrar este pensamento nas escolas e em todos os sectores porque a parceria inteligente pode ser a alavanca que fará bola de neve com o conhecimento disponível para produzirmos riqueza e bem-estar em Moçambique.

In Jornal Público ed.103,pag.06

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A grande represa


Num momento em que centenas de milhar de moçambicanos enfrentam dificuldades extremas devido às cheias e inundações que assolam as bacias dos demais cursos de água que abundam nas zonas sul e centro, não seria de bom tom vir a público tecer críticas a quem quer que seja.
Não é bom rir do canoeiro que se afoga enquanto ainda não atravessamos o rio. No entanto, não podemos deixar de aproveitar o contexto para fazer um pequeno balanço. Não dos danos provocados pelas cheias nas vidas das populações circunvizinhas às zonas afectadas e consequentemente ao próprio processo de desenvolvimento do país, mas sim um balanço dos planos, longos anos e várias vezes anunciados para um melhor aproveitamento da água das chuvas em Moçambique. Um país banhado a jusante por grandes rios que vêm desaguar no Oceano Índico. 
Muitos de nós não sendo especialistas em agronomia ou em engenharia de construção e muito menos em engenharia ambiental, remetem-se, através deste artigo, às questões técnicas aos estudiosos assim como ao decisor político a quem recaem em última instância as responsabilidades pela definição e execução dos planos, e traz-se de novo à ribalta o grande programa de construção de represas, sobretudo naquelas zonas onde a água chega a escassear até provocar seca ao ponto de dizimar pessoas, animais, plantas, etc. parando por completo o desenvolvimento.
Se bem que tenham sido realizados estudos a montante do discurso político. Se tais estudos de engenharia e de impacto ambiental tiverem revelado alguma viabilidade num programa de construção de represas e de outras formas de conservação de água para o consumo humano e para a agricultura como é que continuamos a explicar a falta do precioso líquido num país em que chove tanto? Como é que se explica que após dias de chuvas torrenciais falte-nos água até para as necessidades mais elementares como beber e se lavar?
Constata-se infelizmente que os dispositivos não foram colocados no lugar e que de maneira geral, as mentalidades não evoluíram como seria de desejar, num sinal evidente de que muita coisa ainda vai mal nos programas de desenvolvimento estratégicos que são anunciados.
O pior é, para a maior desolação de todos nós, observar-se que depois das grandes campanhas de comunicação entre 2005 e 2008, se quer quase não se fale mais de construção de represas, a menos de se estar a usar outra terminologia para designar o mesmo projecto. Do que se ouve e se vê, até prova do contrário, exceptuando poucas organizações não-governamentais, que encetaram iniciativas e parcerias, nomeadamente em Tete e Manica, que tivemos a oportunidade de apreciar pela televisão, na prática, nada existe que se veja a olhos nus.
O grande paradoxo é daqui por algum tempo entrarmos em período de estiagem e andarmos à procura de apoios para as populações de Mabalane, Mabote, Mopeia, Morrumabala, etc que morrem à fome devido à seca.
Entre nós existe, obviamente, a convicção de que a seca é um fenómeno natural e que não se pode sempre lutar contra a fúria da água das chuvas. Mas, a apoiar o projecto de construção massiva de represas como uma solução aceitável, ninguém mais consegue conceber que em Moçambique escasseie água sistematicamente.
Várias represas podiam ser edificadas para desviar, conservar e aproveitar as águas dos rios Limpopo, Save, Púngue, Zambeze, Chire, Rovuma, etc. que não conseguimos conter nos períodos chuvosos. Estas preocupações e propostas não podendo passar indiferentes, obrigam a lançar perguntas a todos e ao Governo em particular, a saber:
Quantas represas já foram construídas desde que se anunciou esta ideia há sensivelmente 6 anos atrás? Qual foi o impacto da implantação das referidas represas para as populações? Vale ou não a pena apostar nesta ideia em pequena escala para depois avançarmos em grande dimensão, construindo as grandes auto-estradas da água das chuvas como temos conseguido fazer com as auto-estradas da comunicação?
Infelizmente e em muitas matérias ainda continuamos com o dom de identificar os problemas e encontrar as possíveis soluções mas sem termos a inteligência e a coragem de ir à procura dos resultados que somente de nós próprios dependem. Isto já dura há muitos anos e repetimos os mesmos erros como se fossemos incapazes de aprender e aplicar a nossa experiência. As consequências são nefastas: Perdem-se muitos recursos, os problemas acumulam-se e as soluções tornam-se praticamente insustentáveis a médio prazo.
Ousemos experimentar, mas primeiro planeemos muito bem. Façamos os devidos ensaios, tanto quanto for preciso e rápido para decidirmos com conhecimento de causa. Coloquemos na direcção indivíduos competentes, responsáveis e bastante preocupados em ver as coisas de facto a mudar. Temos que virar, colocando a nossa inteligência, através de acções, ao serviço dos nossos grandes sonhos. Se for necessário, visitemos e apliquemos as melhores práticas observáveis em outros países, onde se produz todo o tipo de comida em zonas áridas. Se não soubermos escutar as nossas aspirações, continuaremos ignorantes por mais algum tempo, a lamentar e à espera da ajuda de alguém que nunca virá produzir arroz para nós!

In Jornal Público ed.102,pag.06

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pouca inovação em Moçambique: Causas, consequências e estratégias (1)


Geralmente quando se fala em inovação as pessoas tendem a pensar em termos de tecnologias de ponta ou de NTICs. Porém, na verdade a inovação não se aplica somente na tecnologia mas também nos diferentes sectores da economia e da sociedade.
Neste sentido, pode-se inovar em todos os pilares de desenvolvimento como preconizado no PARPA ou na Agenda 2025 e em diferentes níveis: governação, capital humano, infra-estrutura, crescimento económico. Isto, desde o pequeno camponês que produz para a sua subsistência ao explorador que aplica uma agricultura mecanizada para a comercialização e exportação, indo até aos sectores como educação, saúde, justiça, assistência social e género, transporte, comércio, etc. Inovação abarca tanto as zonas rurais como as cidades.
Inovação é sinónimo de reformas, de mudanças e se quisermos usar um termo actualmente muito na moda – de viragem. Existem várias formas de inovação. Ela pode ser radical ou revolucionária, no sentido de uma grande viragem que muda radicalmente os hábitos das pessoas, mas também, incremental ou progressiva no sentido de pequenas transformações nos serviços, produtos ou procedimentos mas sem implicar grandes transformações nos hábitos e cultura do usuário. Próximo deste último sentido e de forma quase pejorativa, usa-se geralmente a terminologia de mudanças cosméticas para descrever essencialmente reformas a priori votadas ao fracasso mas que são tomadas só para o inglês ver.
Obviamente, não é o que se pretende com a inovação radical ou incremental. O que se quer é uma inovação que ajude a melhorar a qualidade de vida das pessoas; a diminuir os custos das operações e melhorar a qualidade dos produtos e serviços; a criar mercados, empregos e aumentar substancialmente a renda dos cidadãos; a transformar o país numa nação próspera e competitiva e em última instância livre das doenças, da corrupção, do analfabetismo e da pobreza.
Alguns procurarão forçar ao ponto de verem em Moçambique muitas inovações. Mas com um olhar mais crítico, perante os factos que se apresentam na perspectiva de uma luta sustentável contra a pobreza, encontraremos que o país está a crescer, certo e mercê de algumas reformas cujos impactos não podem ser imediatos, mas a custa de muitas disparidades e discrepâncias. Por exemplo, o sector da educação com uma forte massificação do ensino, perto de 7 milhões de alunos e um volume cada vez crescente de graduados do ensino superior, ainda não consegue fazer absorver o conhecimento de que já se dispõe nas áreas de que o país mais se ressente como lamentou o ex-Presidente da República, Joaquim Chissano, numa cerimónia de graduação realizada em Nampula, a princípio deste mês. Este indicador é persi bastante válido para admitirmos que um país que não consegue absorver o conhecimento que dispõe dificilmente transforma a educação em capital para poder inovar, produzir e ser competitivo. É um cenário muito grave com que nos devemos preocupar, pois deixa augurar muitos insucessos na luta contra a pobreza.
Aos problemas várias são as soluções que podem ser preconizadas. O Jornal Público lançou a presente coluna no intuito de abrir uma janela de reflexão baseada naquilo que se sabe e que se precisa saber para melhorar os nossos dispositivos. Trata-se do uso do conhecimento como ferramenta estratégica de luta contra a pobreza. Como tal, um bom uso do conhecimento, significa a sua aplicação eficaz e eficiente em soluções visando a melhoria da qualidade de vida das populações, passando necessariamente por mudanças, inovações e se quisermos viragens.
Se a inovação reveste-se de um carácter estratégico para o crescimento de um país, por que então é que pouco se inova neste país? É a pergunta que nos parece urgente colocar. Porém, a resposta não pode vir da única pessoa, mas dos debates a diferentes níveis. Constatar um problema é um ponto de partida seguro para a sua solução. Se concordamos que a nossa capacidade inovativa é muito fraca o que deve então ser feito para mudar o estado das coisas?
Chove muito, temos uma vasta bacia hidrográfica mas falta-nos paradoxalmente água para o consumo humano e para a agricultura, etc. Três meses de cheias e inundações ainda revertem-se em anos de seca para as mesmas populações de Mopeia e Morrubambala. O primeiro-ministro, Aires Ali, na sua recente visita a Sofala, felicitou a população de Buzi pelos elevados índices de produção, mas voltou a lamentar fraquezas na comercialização. Falta de vias de acesso, os meios de conservação, como vem acontecendo noutros numerosos celeiros que o país detém. Na área dos transportes públicos os problemas agravam-se cada vez mais, a capital do país apresentando-se como o epicentro da crise com falta de autocarros, além de vias congestionadas.
Congratulamo-nos que a semelhança de outras províncias e distritos, Sofala esteja a relançar o seu plano estratégico. É bem-vindo, pensar o desenvolvimento local bem assim o desenvolvimento global, mas é preciso reconhecer que o exercício de planificação só fará sentido com um grande dinamismo na fase de implementação dos projectos. Por outro lado, é preciso aceitar que os impactos dos planos só se farão sentir com uma boa vigilância estratégica, isto é, consciente da necessidade de um investimento permanente na capacidade de inovar para mudar as coisas que já foram identificadas como os nós de estrangulamento. É ai que a nossa capacidade de inovação deve vingar! 

In Jornal Público ed.101,pag.06

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Finalmente um pouco de indisciplina



 Um país precisa, por um lado, de um mínimo, se não mesmo de muita ordem e organização para poder crescer. Por outro, por mais paradoxal que possa parecer, precisa também de alguma dose de desordem ou mesmo de desorganização organizada para poder crescer mais ainda.  
Há neste conflito dialéctico entre disciplina em relação à ordem estabelecida e o espaço que se deixa para a confrontação do paradigma, o reconhecimento de que o progresso não se constrói numa só voz, mas pela pluralidade de vozes, até dissonantes que podem reencontrar-se em sintonia.
Contrariamente ao que se pensa, que nos países do ocidente, cada um diz e faz o que pensa no seio das instituições, incluindo no próprio governo, a experiência mostra que a natureza humana tende a reagir de maneira quase similar face à confrontação de pensamentos políticos, independentemente do nível de desenvolvimento dos países. 
Basta recordar que durante a guerra do Golfo no início dos anos 90, o ministro francês da defesa, teve que se demitir por contrariar a decisão do governo de François Mitterrand de enviar tropas ao Koweit, tendo formulado a declaração, traduzida - “um ministro deve saber calar a boca ou vai à rua”, tornada célebre nos meios políticos por bem resumir a conduta que qualquer subalterno deve adoptar perante a sua hierarquia.  
Na verdade, geralmente as organizações tendem a não ser muito permissíveis à confrontação de ideias e muito menos ao novo, sobretudo, quando este não emana da iniciativa do grupo que detém as rédeas.
Nestas condições todos aqueles que aspiram a ser cooptados na organização ou vir a assumir posições de destaque não costumam ter outra escolha, senão a de respeitar a ordem estabelecida. 
Os que ousam confrontar, trazendo novas abordagens, contrariando deste modo o paradigma – o modelo vigente, embora tendo o mérito de fomentar a inovação, são geralmente catalogados de bárbaros e marginais ao ponto de se verem excomungados. São expulsos, perdem imediatamente o pão ou então a chance de um dia alcançar posições de destaque.
É mundialmente aceite que quem determina a ordem e garante o seu cumprimento são os partidos políticos, as instituições, o governo e os órgãos de soberania, etc. Da inteligência das principais forças vivas dependerá a criação de espaços para que a inovação encontre seu viveiro e se mudem as coisas no interior do próprio paradigma, por forma a se alcançar mudanças na nossa sociedade. 
Se for necessário, ter-se-á que aceitar engolir sapos vivos em relação àquilo que seriam regras voluntária ou involuntariamente pré- estabelecidas ao ponto de permitir deliberadamente que novos procedimentos e formas de estar em política sejam postas em prática para se sair da crise e rumarmos por um desenvolvimento cada vez inclusivo e sustentável. 
Contra factos não há argumentos, apesar de se dizer que nem toda a verdade deve ser revelada. Porém, um sistema mal informado, à semelhança de um indivíduo a quem o médico não revela o seu estado de saúde, acaba por não adoptar a conduta que seria de desejar face a determinadas situações, principalmente, em caso de crises.
Por isso, é de louvar àqueles que ousam apresentar frontalmente os indicadores quantitativos e qualitativos de que os decisores não podem prescindir. Simultaneamente, encoraja-se aos promotores de mudanças a não fazer de contas, só para o inglês ver, mas a manterem-se fiéis aos ideais de servir, assumindo os riscos que se impõem, realizando estudos e ajudando a desenhar planos que se saldem por resultados de impacto. 
Ventos já sopram para a mudança. Ecos ouviram-se das três gerações reunidas no painel de 5ª a Noite na TVM, dia 03 de Fevereiro que em diapasão exaltaram Samora Machel, mas também a necessidade de mantermo-nos críticos e proactivos com a coisa pública. 
Parabéns para Ernesto Gove, governador do Banco de Moçambique que, finalmente, veio em pleno Conselho Consultivo romper com o discurso clássico de que a crise financeira internacional não nos afectaria, tendo ousado assumir que as medidas não foram suficientes. Bravo ao Reitor da A Politécnica que já nos habituou a pôr o dedo na úlcera e voltou à ribalta numa entrevista ao Jornal o País, ainda mais contundente ao alertar para que a competência técnica não seja descurada em nenhum momento decisório, particularmente no que tange à exploração dos recursos naturais de que somos depositários.
Estas duas personalidades lançaram uma nova era no fazer política pública rompendo com dogmas.
Ernesto Gove já é das grandes lides. Deve aspirar a manter-se ou alcançar outros patamares. Por sua vez, Lourenço do Rosário, voz sonante da sociedade civil, muito próximo das grandes lides, é um potencial que deve aspirar a posições de destaque. Mas neste início de 2011 ousaram dizer alto o que muitos pensam baixo, rompendo com a famosa disciplina que nem sempre é válida, como se não tivessem receio de perder o famoso tacho. 
É que ganham-se combates aplicando estratégias aprimoráveis consoante as situações. Os sucessos do passado devem ser capitalizados, mas Moçambique de hoje já não funciona com receitas de 1980. É preciso reconhecer. Temos todos que aceitar que o segredo do sucesso está na capacidade de aprendizagem permanente da mudança e que não pode haver progresso sem um pouco de indisciplina. Claro, no respeito das pessoas, do bem comum, da lei e das instituições, etc!

In Jornal Público ed.100

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Em busca de líderes contra a pobreza



O Presidente Guebuza tem o mérito de nos fazer redescobrir o distrito através da encarnação de uma política de descentralização voluntária colocando hoje os nossos 128 territórios como pólos de desenvolvimento no centro do processo de planificação. Esta política se faz acompanhar pela convicção de que a solução dos problemas e das carências que se fazem sentir passa, genuinamente, pela capacidade criativa e organizativa existente localmente que precisa ser potenciada através, não só de financiamentos, mas também de aprendizagem e de sinergias entre centro e periferia bem como de periferia à periferia.
Neste processo, o Presidente tem igualmente o mérito de alertar como fê-lo na VI Reunião Nacional dos Governos Locais realizada na semana passada em Sofala, para a necessidade dos dirigentes se assumirem não apenas como chefes e gestores mas como líderes.
Ao nos remeter para uma distinção entre líder e dirigente o Presidente alerta-nos, não de forma anódina, sobre a importância à dar ao papel da liderança como factor de mudança, de produtividade e de competitividade, pressupostos básicos para a criação de emprego, de crescimento económico e de bem-estar, etc.
Evidentemente, nenhuma mudança em resposta às mutações tecnológicas, socioeconómicas e políticas que se aceleram cada vez mais, não terá sentido sem um diagnóstico da situação de cada organização, de cada território e de cada comunidade, e muito menos sem a identificação de líderes locais à altura dos processos.
Os eleitos, os ministros, os governadores, os administradores, os directores, etc. podem jogar o papel de líderes, mas não perdem a se fazer acompanhar por profissionais encarregues da coordenação, da implementação e do monitoramento técnico dos programas de desenvolvimento.
Uma tal missão reveste-se de diferentes facetas: coordenar os meios, motivar e coordenar as equipas, suscitar complementaridades, fazer emergir novas iniciativas, estudar a sua viabilidade e modalidades de integração aos objectivos globais, avaliar as políticas públicas ou privadas.
Haja reconhecido o papel da liderança, as ciências da administração vêm tentando nos elucidar sobre as teorias subjacentes. Nesta matéria, Peter Senge, autor de “A 5ª disciplina” realizou no seu laboratório do MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma experiência que vale a pena partilhar.
A proposta de Peter Senge assenta numa nova versão da liderança organizacional fundada na engenharia do projecto, através da qual, o líder abraça a função de projectista. Com esta proposta, o projecto, uma técnica muito tempo confinada à arquitectura e à engenharia clássicas, torna-se numa disciplina mais transversal clamando por uma incorporação intensa nos programas de formação, incluindo em administração pública.
Ser líder projectista, significa que o dirigente deve integrar na sua acção a função de engenheiro, além dos saberes clássicos da gestão: planificar, coordenar, controlar e avaliar, respondendo assim à problemática das organizações, não simplesmente da mudança, mas sim da mudança sustentável e da construção de um futuro, não só ideal, mas durável passando por uma reengenharia constante nos produtos e processos.

Líderes contra a pobreza devem
 ser projectistas

A dimensão do líder como projectista, apesar da sua importância estratégica é ainda negligenciada. Peter Senge, parafraseando Lao-Tsé para quem o líder ruim é aquele que as pessoas desprezam. O bom líder é o que as pessoas elogiam. O grande líder é aquele sobre quem as pessoas dizem “nós fizemos sozinhos”, iluminou um pouco o motivo pelo qual o projecto tem uma dimensão negligenciada na liderança: O projectista recebe pouco crédito. As funções do projectista raramente são visíveis, eles agem nos bastidores. As consequências que aparecem hoje são resultado do trabalho feito no passado, e o trabalho de hoje mostrará seus benefícios no futuro. Quem aspirar a liderar por desejo de controlar ou de ganhar fama, ou simplesmente de ser “o centro da acção” terá pouca atracção pelo calmo trabalho de definição de projectos de liderança. Não que a liderança do tipo projectista não tenha suas recompensas. Aqueles que a praticam encontram uma profunda satisfação em dar autonomia aos outros e em fazer parte de uma organização capaz de produzir resultados com os quais as pessoas realmente se importam.
Para ilustrar a importância estratégica do líder se definir como projectista, Peter Senge fez a seguinte pergunta a grupos de gerentes com quem trabalhou no MIT:
Imagine que sua organização é um transatlântico, e que você é o líder. Qual é o seu papel?
A resposta mais comum, obviamente, era “o capitão”. Outros diziam “o navegador”, determinando a direcção. Outros ainda, diziam “o timoneiro”, que realmente controla a direcção ou “o engenheiro” alimentado o fogo, fornecendo a energia ou “o director social” garantindo a participação e a comunicação de todos.
Embora esses sejam papeis legítimos de liderança, existe outro que, de certa forma ofusca toda a importância dos demais. Entretanto, raramente se pensa nele. O papel de liderança negligenciado é o de projectista do navio. Ninguém tem maior influência do que o projectista.
De que adianta o capitão dizer “vire 30 graus a estibordo”, quando o projectista desenvolveu um leme que vai virar apenas para bombordo, ou que demora seis horas para virar a estibordo? É inútil ser líder em uma organização mal projectada, argumenta, Peter Senge.
O trabalho de projectista dos líderes envolve projectar as políticas, as estratégias e os sistemas da organização. Mas vai além disso. Projectar estratégias e politicas que ninguém pode implementar porque não entende ou concorda com o raciocínio subjacente tem pouco efeito. A nova descrição de cargos de líderes envolverá projectar a organização e suas políticas. Isso exigirá que se veja a organização como um sistema, no qual as partes não são apenas internamente conectadas, mas também conectadas ao ambiente externo, e exigirá uma clara visão de como o sistema, como um todo, pode trabalhar melhor.

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In Jornal Público ed.92,pag.06