Identificado o ano passado como um daqueles think tank locais por descobrir e valorizar, à imagem de muitos outros pelo país fora cujas reflexões e ensinamentos clamam por uma absorção a bom de políticas públicas eficazes, Chez Tembe tem vindo a registar um franco crescimento e à grande velocidade. Prova disso são as solicitações de convites, para participar dos eventos, por parte de celebridades de que Rui de Carvalho, um dos protagonistas do clube tem sido alvo. Depois da passagem de Ziqo, muito concorrida pela criançada e jovens da Polana Caniço, Chez Tembe prepara-se para receber o artista MC Roger, também conhecido por patrão.
O crescimento deste centro de reflexão que nasceu numa barraca informal é notável pela qualidade dos temas discutidos e nível de reflexão dos protagonistas que por ali passam. O espaço já começa a ser muito exíguo e a clamar por uma reabilitação para responder a dimensão que acaba de ganhar.
No menu dos debates do primeiro semestre deste ano coube espaço para vários temas candentes, entre os quais o papel da imprensa num país democrático, as revoluções no Médio Oriente e na África do Norte com destaque para a Líbia. A problemática de uma melhor partilha da riqueza mundial também não escapou a análise.
Conta-se entre as figuras que já passaram no Tembe, Ministros, assessores do Governo, políticos de várias cores partidárias, directores e editores de jornais, líderes de organizações da sociedade civil, jornalistas, músicos de renome, além dos próprios amigos e vizinhos do Tembe.
Sobre o papel da imprensa na edificação da democracia em Moçambique os participantes do fórum comungaram a ideia que nenhuma imprensa no mundo pode ser totalmente imparcial. A designação de imprensa independente, por oposição a órgãos oficias não quer dizer necessariamente que não haja relação com alguma forma de poder, a media em si sendo uma forma de poder. Daí que o jornalista deve ter consciência do seu papel de informador de uma sociedade mas também de educador e por vezes de mediador ou árbitro do debate público, devendo por quanto pautar por uma grande capacidade de isenção respeitando os leitores, as fontes de informação e apresentando os factos e não a interpretação dos factos como se fossem a verdade.
Um líder de uma associação Juvenil alertou para o risco da produção uma certa forma de jornalismo andrajoso, nada bem-vindo ao estágio de democracia para o qual Moçambique vem crescendo. Um país que apesar de todas as dificuldades tem pautado por uma convivência plural com os jornais na liderança a informar e condenar tudo o que vai mal num exercício aberto de debate público diferentemente de outros países do mundo em que os fazedores de informação são sistematicamente molestados e condenados só porque ousaram criticar um sistema.
Desafio a Ban Ki-Moon
Segundo estudos, de uma população de quase sete mil milhões de habitantes que fazem o planeta terra, três mil milhões vivem com menos de três dólares ao dia e em condições de extrema precariedade.
A pobreza no mundo inteiro mereceu uma atenção especial com um dos participantes ao debate do Tembe a desafiar Ban Ki-Moon e as Nações Unidas com uma proposta bastante revolucionária. “ o Homem é que inventou a máquina de fabricar dinheiro, é o homem que fabrica dinheiro. Então por que não fabricar dinheiro suficiente para dar a cada família do mundo 100 mil dólares? Isto acabaria com a pobreza ou pelo menos ninguém poderia se queixar por falta de dinheiro pois cada um terá a oportunidade de pegar o suficiente de uma única vez”. Cada família teria a responsabilidade de saber fazer o melhor uso com o dinheiro alocado para iniciar seu negócio ou depositar num banco, por exemplo.
Os mais pessimistas viram na ideia não só uma ofensa aos critérios estabelecidos para a produção do dinheiro mas também um grande risco de inflação enquanto os mais progressistas viam na proposta uma boa maneira de se avançar para uma melhor partilha das riquezas existentes no mundo, que são aliás detidas por uma pequena minoria. Facto que a imprensa internacional viria a corroborar com a publicação da lista dos homens mais ricos do mundo num total de alguns 1200 bilionários, na sua maioria americanos.
Revoluções no Médio Oriente e África do Norte
Os participantes encontram nas causas das manifestações violentas que levaram a queda de regimes no Egipto e na Tunísia e a eminente queda de outros dirigentes, não só a problemática da precariedade mas também o desemprego e a privação de liberdade a que maioria dos povos em convulsão foi exposta durante dezenas de anos. Nalguns casos os participantes lamentaram a fraca intervenção dos dirigentes do continente africano para condenar atrocidades que estavam a ocorrer sob pretexto de manutenção da ordem, segurança e soberania de Estados. Trata-se aqui de assuntos complexos que viriam a complicar-se no caso da Líbia que entrou numa verdadeira guerra civil e como se não bastasse com uma cereja sobre a bolo com as Nações Unidas a autorizarem uma coligação dirigida por países ocidentais a lançarem ataques contra o regime líbio acusado de massacrar o seu próprio povo. Os participantes lamentaram medidas desproporcionais para problemas semelhantes com os interesses estratégicos, neste caso o petróleo a pesar bastante.
Van Dame e Rambo são muito caros
Rui de Carvalho, Director do Público, não perdeu a ocasião para deixar a lembrança de seu vizinho a conversar com o filho onde este último perguntara ao pai afinal por que não se levava Van Dame e Rambo a prender Bin Laden. Pergunta a qual o pai muito seguro de si respondera que eram muito caros e os americanos não tinham dinheiro para pagar. Tudo para mostrar a representação que nos oferece da vida o cinema, aliás esta conversa mostra alguma verdade pois temos assistido a cenas em que mercenários são destacados para trazer homens muito procurados para responderem à justiça. E os mais recentes desenvolvimentos vieram provar na realidade esta representação viva do cinema com forças especiais americanas a intervirem no Paquistão para encontrar Bin Laden, aquele que era o homem mais procurado do mundo, na sequência do atentado de 11 de Setembro.
Muita tinta tem corrido a volta do conflito que opõe o ocidente e forças ditas extremistas islâmicas, muitos actores não hesitando a comparar com a reedição das guerras santas e cruzadas de então. Simplesmente o mundo anda de pernas viradas para o ar, tanto é que para leigos já nem se sabe ao certo quem está na sua razão. A consubstanciar, no caso de Saddam Hussein, condenado à morte em conexão com crimes de guerra, até Tony Blair e George Bush, protagonistas da intervenção, reconheceram ter havido falhas no processo das armas de destruição massiva, usado como principal móbil no ataque contra o Iraque.
Rui de Carvalho o federador
Moisés Tembe não fica atrás. Afinal é ele o proprietário daquele espaço muito especial que já se tornou referência. Tem a paciência e o cuidado de nos servir boas sopas, petiscos de patas com tripa de galinha e às vezes aquele peixe da água doce que vem da Corrumana. É tudo muito rápido e saboroso. O que seria de nós sem o bom petisco e a simpatia do amigo Tembe?
Mas o verdadeiro arquitecto dos debates é Rui de Carvalho que consegue reunir amigos, colegas e personalidades a sua volta. Não conhecemos nenhum inimigo deste grande jornalista da nossa praça, o qual com o seu canhão não deixa nada passar. É pena estarmos presentes e não podermos contar a história no presente. Mas um dia dirão as futuras gerações nos anos 90/2000 nasceu em Moçambique um jornalismo independente e uma sociedade civil forte, que em conjunto muito terá feito para aquilo que será o país que temos sonhado. Nomes como Salomão Moiana, Rui de Carvalho entre outros, estarão gravados como um dia gravámos para sempre os nomes dos irmãos Albasini, fundadores do jornalismo moçambicano, Ricardo Rangel, José Craveirinha, Albino Magaia, entre outros.
É grande honra podermos ter o Rui de Carvalho como fundador do Público e como mediador nos nossos debates que conseguem eco nos demais leitores do semanário que dirige. Na pessoa que se confunde o jornalista e director do Público o homem tem conseguido desdobrar-se, indo ao povo e ao dirigente, passando pelo burguês que nem devia se assumir como tal porque afinal estamos num país que se orgulha do pouco que tem apesar de sofrer carências.
Rui de Carvalho vem lutando no meio de todas dificuldades para construir o tal jornalismo de desenvolvimento com o qual nos reconhecemos e nos empenhamos totalmente. Ninguém gostaria de estar na pele do ministro das dobradas ou então das bananas e demais, porém não havendo fumo sem fogo, mesmo a brincar continuaremos a desvendar tudo o que os nossos concidadãos devem aprender doa a quem doer. Rui de Carvalho nunca se esquece da sua passagem como estagiário pela AIM e do seu grande mentor, Carlos Cardoso, de quem muito aprendeu.
Ziqo provou merecer fama
A fama é a maior inimiga da criatividade e do artista. Contrariamente à alguns famosos que perdem a cabeça, excedem-se ao ponto de esquecer de onde vêm e para onde vão, Ziqo provou merecer a fama e simpatia que granjeia na juventude moçambicana. É tido como o fundador da música Pandza, aliás aceita ter inventado o nome, mas não reivindica nenhuma forma de reconhecimento: “só sei que sou autor e dono das minhas próprias músicas”, afirma humildemente.
As pessoas apreciam muito quando os famosos descem cá para o terreno e encontram a realidade de todos os dias. É isso que algumas das proeminentes figuras que visitam o Tembe têm mostrado cada vez que por ali passam. Ziqo não fugiu a regra e por isso deu-se muito bem com aquela criançada do Bairro da Polana Caniço a pedir autógrafos, uma pose de fotografia e a querer vê-lo de perto. Ziqo podia muito bem ser usado em muitas obras, em particular para ajudar as crianças a gostar de estudar. É que com a fama que ostenta e mostra merecer, ele só pode influenciar no sentido positivo.
In Jornal Público ed.118
FORÇA RAFAEL, BM JOB TAX FAZENDO AMIGO
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