segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pouca inovação em Moçambique: Causas, consequências e estratégias (1)


Geralmente quando se fala em inovação as pessoas tendem a pensar em termos de tecnologias de ponta ou de NTICs. Porém, na verdade a inovação não se aplica somente na tecnologia mas também nos diferentes sectores da economia e da sociedade.
Neste sentido, pode-se inovar em todos os pilares de desenvolvimento como preconizado no PARPA ou na Agenda 2025 e em diferentes níveis: governação, capital humano, infra-estrutura, crescimento económico. Isto, desde o pequeno camponês que produz para a sua subsistência ao explorador que aplica uma agricultura mecanizada para a comercialização e exportação, indo até aos sectores como educação, saúde, justiça, assistência social e género, transporte, comércio, etc. Inovação abarca tanto as zonas rurais como as cidades.
Inovação é sinónimo de reformas, de mudanças e se quisermos usar um termo actualmente muito na moda – de viragem. Existem várias formas de inovação. Ela pode ser radical ou revolucionária, no sentido de uma grande viragem que muda radicalmente os hábitos das pessoas, mas também, incremental ou progressiva no sentido de pequenas transformações nos serviços, produtos ou procedimentos mas sem implicar grandes transformações nos hábitos e cultura do usuário. Próximo deste último sentido e de forma quase pejorativa, usa-se geralmente a terminologia de mudanças cosméticas para descrever essencialmente reformas a priori votadas ao fracasso mas que são tomadas só para o inglês ver.
Obviamente, não é o que se pretende com a inovação radical ou incremental. O que se quer é uma inovação que ajude a melhorar a qualidade de vida das pessoas; a diminuir os custos das operações e melhorar a qualidade dos produtos e serviços; a criar mercados, empregos e aumentar substancialmente a renda dos cidadãos; a transformar o país numa nação próspera e competitiva e em última instância livre das doenças, da corrupção, do analfabetismo e da pobreza.
Alguns procurarão forçar ao ponto de verem em Moçambique muitas inovações. Mas com um olhar mais crítico, perante os factos que se apresentam na perspectiva de uma luta sustentável contra a pobreza, encontraremos que o país está a crescer, certo e mercê de algumas reformas cujos impactos não podem ser imediatos, mas a custa de muitas disparidades e discrepâncias. Por exemplo, o sector da educação com uma forte massificação do ensino, perto de 7 milhões de alunos e um volume cada vez crescente de graduados do ensino superior, ainda não consegue fazer absorver o conhecimento de que já se dispõe nas áreas de que o país mais se ressente como lamentou o ex-Presidente da República, Joaquim Chissano, numa cerimónia de graduação realizada em Nampula, a princípio deste mês. Este indicador é persi bastante válido para admitirmos que um país que não consegue absorver o conhecimento que dispõe dificilmente transforma a educação em capital para poder inovar, produzir e ser competitivo. É um cenário muito grave com que nos devemos preocupar, pois deixa augurar muitos insucessos na luta contra a pobreza.
Aos problemas várias são as soluções que podem ser preconizadas. O Jornal Público lançou a presente coluna no intuito de abrir uma janela de reflexão baseada naquilo que se sabe e que se precisa saber para melhorar os nossos dispositivos. Trata-se do uso do conhecimento como ferramenta estratégica de luta contra a pobreza. Como tal, um bom uso do conhecimento, significa a sua aplicação eficaz e eficiente em soluções visando a melhoria da qualidade de vida das populações, passando necessariamente por mudanças, inovações e se quisermos viragens.
Se a inovação reveste-se de um carácter estratégico para o crescimento de um país, por que então é que pouco se inova neste país? É a pergunta que nos parece urgente colocar. Porém, a resposta não pode vir da única pessoa, mas dos debates a diferentes níveis. Constatar um problema é um ponto de partida seguro para a sua solução. Se concordamos que a nossa capacidade inovativa é muito fraca o que deve então ser feito para mudar o estado das coisas?
Chove muito, temos uma vasta bacia hidrográfica mas falta-nos paradoxalmente água para o consumo humano e para a agricultura, etc. Três meses de cheias e inundações ainda revertem-se em anos de seca para as mesmas populações de Mopeia e Morrubambala. O primeiro-ministro, Aires Ali, na sua recente visita a Sofala, felicitou a população de Buzi pelos elevados índices de produção, mas voltou a lamentar fraquezas na comercialização. Falta de vias de acesso, os meios de conservação, como vem acontecendo noutros numerosos celeiros que o país detém. Na área dos transportes públicos os problemas agravam-se cada vez mais, a capital do país apresentando-se como o epicentro da crise com falta de autocarros, além de vias congestionadas.
Congratulamo-nos que a semelhança de outras províncias e distritos, Sofala esteja a relançar o seu plano estratégico. É bem-vindo, pensar o desenvolvimento local bem assim o desenvolvimento global, mas é preciso reconhecer que o exercício de planificação só fará sentido com um grande dinamismo na fase de implementação dos projectos. Por outro lado, é preciso aceitar que os impactos dos planos só se farão sentir com uma boa vigilância estratégica, isto é, consciente da necessidade de um investimento permanente na capacidade de inovar para mudar as coisas que já foram identificadas como os nós de estrangulamento. É ai que a nossa capacidade de inovação deve vingar! 

In Jornal Público ed.101,pag.06

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