Pilotada pelo ministério do mesmo nome, a política de Ciência e Tecnologia quer-se de âmbito transversal com o objectivo de estimular a inovação nacional, em benefício do desenvolvimento e do combate à pobreza. A boa nova neste domínio foi o anúncio pelo Governo de um financiamento estimado em 40 milhões de dólares para um total de 700 bolsas de estudo até 2015, incluindo cerca de uma centena de projectos de investigação tecnológica e inovação académica. Este pacote de ajuda à investigação e formação representa, não só uma oportunidade para os jovens que entram no ensino superior darem continuidade aos seus estudos, mas também um ganho de capital humano em tanto que pilar estratégico na luta contra a pobreza. Com uma redução drástica do índice de analfabetismo até 50%, o sector da Educação é dos que mais se desenvolveu durante os 35 anos da independência nacional,
colocando-se agora a batalha de fazer deste ganho uma oportunidade para tornar em alavanca de competitividade na economia nacional, o ensino técnico-profissional e o ensino superior.
colocando-se agora a batalha de fazer deste ganho uma oportunidade para tornar em alavanca de competitividade na economia nacional, o ensino técnico-profissional e o ensino superior.
Dez anos depois da criação do pelouro de Ciência e Tecnologia parece relevante fazer uma avaliação crítica da contribuição deste sector na inovação nacional e no combate à pobreza, sobretudo neste momento em que muitos moçambicanos, académicos especialmente, trazem à superfície suas inquietações sobre as fraquezas em matéria de uso do conhecimento para o desenvolvimento do país. As perguntas que têm aparecido são, entre outras: Afinal o que se faz com os trabalhos de pesquisa realizados nas universidades e nos centros de estudos? Onde está a massa crítica de que o país dispõe para nos ajudar a resolver os problemas de
desenvolvimento? A estas perguntas as respostas continuam escassas, porque ainda persiste a falta de coordenação do trabalho, sobretudo a nível da instituição de tutela da ciência e tecnologia em Moçambique.
O país precisa de criar mercados, oportunidades de emprego e produzir riqueza, luta por um desenvolvimento sustentável, que nalguns países da região de África é já uma realidade.
Há ideias de inovações que não se revelam coordenadas, dando impressão de estarmos numa competição entre pessoas e instituições sem que haja um motor para servir de interface entre os diferentes actores bem como as diferentes etapas pelas quais as ideias devem passar até se tornarem verdadeiros produtos úteis.
Observam-se iniciativas a diferentes níveis e sectores, para mudar o estado das coisas, sendo a mais saliente a que se destina à produção de pão a partir da mistura de farinha de mandioca e trigo, reduzindo deste modo a despesa de importação do trigo. A outra iniciativa proeminente visa a construção de represas para conservar água. O tomate do Chókwè e outros produtos da terra clamam por fabriquetas para garantir a sua conservação por muito tempo. São demandas que mostram a importância de que se reveste a inovação e a necessidade de uma coordenação efectiva de sinergias para se conseguir absorver formalmente as oportunidades de desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Apesar de a implementação do programa de governação electrónica ter conseguido levar o computador e a internet às províncias e aos distritos, facilitando progressivamente a interacção
entre o Estado e o povo, ainda há muito que precisa de ser feito no domínio da ciência, tecnologia e inovação. Promovem-se feiras de inovação, mas isso não é o fim do trabalho. Temos que pensar em aplicar essa inovação na luta contra o subdesenvolvimento.
Vamos começar por introduzir mudanças na estratégia de comunicação sobre a inovação, de modo a que os projectos escolhidos representem verdadeiras pistas de soluções para o desenvolvimento que o país pretende. Vamos reformular o discurso e a acção do sector da Ciência e Tecnologia para o tornar num verdadeiro farol, uma ponte que precisamos todos de atravessar para integrarmos um mesmo e único sistema de inovação ao serviço do desenvolvimento.
Há muita confusão entre ideias, invenções e inovações. As ideias são fontes de inovações. As invenções não são necessariamente inovações. Precisamos avançar para uma metodologia que nos leve a inovar qualquer coisa de útil e agradável na sociedade. O discurso da Ciência e Tecnologia aparece ainda desconectado da realidade; fala-se muito de ciência e de novas tecnologias, mas na prática pouco se faz. Em vez de nos contentarmos com o discurso de retórica sobre a inovação e perdermos o tempo a pensar no uso das TIC’s, vale mais resgatar todas as experiências, todos os saberes locais que estão nas cabeças das pessoas para depois transformá-los em obras para o desenvolvimento.
A mudança e a inovação devem vir daí, para tornar o uso das charruas mais eficaz; curar doenças usando plantas, fabricar pão de mandioca, processar o tomate da terra, etc. Se continuarmos a pensar que vamos mudar as coisas a partir de tractores e computadores sem se ter em conta a experiência local corremos o risco de investir em projectos votados ao fracasso.
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In Jornal Público ed.86,pag.14
In Jornal Público ed.86,pag.14
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