quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Um THINK TANK para Moçambique

Em Setembro de 2010 fui chamado ao Centro de Conferências Joaquim Chissano para um trabalho de interpretação de uma reunião importantíssima para Moçambique em tanto que produtor e exportador de castanha de caju, uma das principais fontes de divisas.
A quinta reunião da ACA, Aliança Africana do Caju, realizada em Maputo, trouxe enormes subsídios para este sector estratégico, nomeadamente no que tange a problemática da instalação de sistemas de gestão da qualidade em toda a cadeia de valor, que vai desde o armazenamento da amêndoa até à embalagem e colocação do produto ao consumidor, como garantia da competitividade de um produto 100% Made in Mozambique.
O nosso país fez-se representar nas discussões por painelistas de alto nível - Senhor Rachid Sultane, tendo na ocasião, apresentado um exemplo de boas práticas organizacionais, merecendo todo o respeito e citação: trata-se do envolvimento de todos os colaboradores de uma organização no processo de gestão da qualidade de um produto, num contexto em que a maioria dos trabalhadores envolvidos na indústria do caju não sabe ler nem escrever. Este é um grande exemplo de boas práticas no sentido em que a sensibilização e treinamento para o respeito de princípios e normas como as prescritas pelos padrões internacionais, - ISO e outros não repele, mas absorve a capacidade de adaptação e de aprendizagem que todos os indivíduos têm, independentemente do facto de serem “analfabetos”. Verifica-se, por outro lado, que a implantação de sistemas de gestão da qualidade vem ganhando espaço graças a uma liderança forte, implicada nos processos e capaz de mobilizar os demais colaboradores para a observação daqueles princípios básicos que agregam valor aos produtos e serviços.
Nesta reunião, trabalhei com meu amigo Jorge Mbanze “JB” que alertou-me sobre aspectos importantíssimos, do interesse não só do sector do caju, mas do país como um todo. Ele disse-me com efeito, na senda dos debates por causa das manifestações de Setembro que para um desenvolvimento rápido e organizado, Moçambique precisava de um THINK TANK. Perguntei-lhe  o que era isso de think tank e para quê servia. JB, explicou-me que Think tank era mais ou menos uma reunião como aquela que estava a acontecer entre os países produtores e exportadores de caju no Centro de Conferências.
Um THINK TANK é um grupo que congrega uma massa crítica, isto é, proeminentes figuras com larga experiência em consultoria e aconselhamento, que se reune a pedido ou não dos governos para projectar a resolução de um determinado problema presente ou futuro. Isso acontece muito nos países desenvolvidos, nos EUA, particularmente onde grupos de lobby influenciam na tomada de decisões pelos partidos e pelo governo. As organizações da Sociedade Civil jogam bem esse papel de think tank.
Depois desta conversa comecei a reflectir no assunto e tentei ver o que havia do lado de cá em matéria de think tank, tendo chegado a uma fascinante conclusão. Os Think tanks existem muito bem em Moçambique, alguns formalmente, mas a maior parte deles como pelo mundo fora, informalmente. Ainda voltarei a discutir este assunto depois das revelações de um grande apaixonado de aviação com quem falei há dias no Aeroclube.
Estas organizações já vêm contribuindo para o desenvolvimento e poderão contribuir muito mais ainda se forem encorajadas e potenciadas. Encorajá -las e potenciá-las, começa por serem melhor identificadas e estudadas nas suas especificidades. Encorajá-las e potenciá-las significa serem mais reconhecidas pelas autoridades governativas como interlocutores válidos e fica aqui o apelo para que estudiosos e quem de direito se concentre seriamente nesta matéria de extrema relevância para todos nós.
O Governo tem os seus tradicionais órgãos de consulta especializados mas precisa de ouvir outras vozes dissonantes, conflitantes ou consonantes para contrastar o maior e melhor número de cenários possíveis face a um problema. Encontrar esses outros cenários de desenvolvimento a escolher pode vir da soma das propostas de todos nós organizadas e sintetizadas no seio dos think tank. Propostas desta natureza, as vindas dos think tank, comportam grandes vantagens porque saem das bases e podem ser facilmente apropriadas uma vez as pessoas se reconhecerem nos processos e através dos resultados.
Alguns órgãos de comunicação social, os Conselhos de igrejas, o Comité de Conselheiros da Agenda 2025, os sindicatos, a CTA, a AMECON, as Ordens de Engenheiros e de Advogados, a Associação Médica, o IESE (Instituto de estudos económicos e sociais), o CIP (Centro de integridade pública), o G20, o Observatório da pobreza, a Liga dos Direitos Humanos, o MASC, o Parlamento Juvenil, sem esquecer todas as outras organizações formais que existem há mais ou menos tempo, são exemplos de Think tank à maneira moçambicana.
Nas províncias, nos distritos e nas comunidades há os THINK TANK locais, uns mais discretos e informais que outros. Temos que descobri-los! O mais importante agora é termos a capacidade de reunir as pessoas e os organismos mais vezes, absorvendo-lhes naquilo que têm de mais precioso, as ideias e a capacidade de gerir e organizar. O meu think tank situa-se do lado da Polana Caniço, CHEZ TEMBE, onde me encontro com meus amigos -  Varela, Rui de Carvalho, Afonso, Chichava, Nunes Timba, Cuna e sonhamos juntos num Moçambique belo, próspero e competitivo.

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In Jornal Público ed.94,pag.06

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