Em Setembro de 2010 fui chamado ao Centro de Conferências Joaquim Chissano para um trabalho de interpretação de uma reunião importantíssima para Moçambique em tanto que produtor e exportador de castanha de caju, uma das principais fontes de divisas.
A quinta reunião da ACA, Aliança Africana do Caju, realizada em Maputo, trouxe enormes subsídios para este sector estratégico, nomeadamente no que tange a problemática da instalação de sistemas de gestão da qualidade em toda a cadeia de valor, que vai desde o armazenamento da amêndoa até à embalagem e colocação do produto ao consumidor, como garantia da competitividade de um produto 100% Made in Mozambique.
O nosso país fez-se representar nas discussões por painelistas de alto nível - Senhor Rachid Sultane, tendo na ocasião, apresentado um exemplo de boas práticas organizacionais, merecendo todo o respeito e citação: trata-se do envolvimento de todos os colaboradores de uma organização no processo de gestão da qualidade de um produto, num contexto em que a maioria dos trabalhadores envolvidos na indústria do caju não sabe ler nem escrever. Este é um grande exemplo de boas práticas no sentido em que a sensibilização e treinamento para o respeito de princípios e normas como as prescritas pelos padrões internacionais, - ISO e outros não repele, mas absorve a capacidade de adaptação e de aprendizagem que todos os indivíduos têm, independentemente do facto de serem “analfabetos”. Verifica-se, por outro lado, que a implantação de sistemas de gestão da qualidade vem ganhando espaço graças a uma liderança forte, implicada nos processos e capaz de mobilizar os demais colaboradores para a observação daqueles princípios básicos que agregam valor aos produtos e serviços.
Nesta reunião, trabalhei com meu amigo Jorge Mbanze “JB” que alertou-me sobre aspectos importantíssimos, do interesse não só do sector do caju, mas do país como um todo. Ele disse-me com efeito, na senda dos debates por causa das manifestações de Setembro que para um desenvolvimento rápido e organizado, Moçambique precisava de um THINK TANK. Perguntei-lhe o que era isso de think tank e para quê servia. JB, explicou-me que Think tank era mais ou menos uma reunião como aquela que estava a acontecer entre os países produtores e exportadores de caju no Centro de Conferências.
Um THINK TANK é um grupo que congrega uma massa crítica, isto é, proeminentes figuras com larga experiência em consultoria e aconselhamento, que se reune a pedido ou não dos governos para projectar a resolução de um determinado problema presente ou futuro. Isso acontece muito nos países desenvolvidos, nos EUA, particularmente onde grupos de lobby influenciam na tomada de decisões pelos partidos e pelo governo. As organizações da Sociedade Civil jogam bem esse papel de think tank.
Depois desta conversa comecei a reflectir no assunto e tentei ver o que havia do lado de cá em matéria de think tank, tendo chegado a uma fascinante conclusão. Os Think tanks existem muito bem em Moçambique, alguns formalmente, mas a maior parte deles como pelo mundo fora, informalmente. Ainda voltarei a discutir este assunto depois das revelações de um grande apaixonado de aviação com quem falei há dias no Aeroclube.
Estas organizações já vêm contribuindo para o desenvolvimento e poderão contribuir muito mais ainda se forem encorajadas e potenciadas. Encorajá -las e potenciá-las, começa por serem melhor identificadas e estudadas nas suas especificidades. Encorajá-las e potenciá-las significa serem mais reconhecidas pelas autoridades governativas como interlocutores válidos e fica aqui o apelo para que estudiosos e quem de direito se concentre seriamente nesta matéria de extrema relevância para todos nós.
O Governo tem os seus tradicionais órgãos de consulta especializados mas precisa de ouvir outras vozes dissonantes, conflitantes ou consonantes para contrastar o maior e melhor número de cenários possíveis face a um problema. Encontrar esses outros cenários de desenvolvimento a escolher pode vir da soma das propostas de todos nós organizadas e sintetizadas no seio dos think tank. Propostas desta natureza, as vindas dos think tank, comportam grandes vantagens porque saem das bases e podem ser facilmente apropriadas uma vez as pessoas se reconhecerem nos processos e através dos resultados.
Alguns órgãos de comunicação social, os Conselhos de igrejas, o Comité de Conselheiros da Agenda 2025, os sindicatos, a CTA, a AMECON, as Ordens de Engenheiros e de Advogados, a Associação Médica, o IESE (Instituto de estudos económicos e sociais), o CIP (Centro de integridade pública), o G20, o Observatório da pobreza, a Liga dos Direitos Humanos, o MASC, o Parlamento Juvenil, sem esquecer todas as outras organizações formais que existem há mais ou menos tempo, são exemplos de Think tank à maneira moçambicana.
Nas províncias, nos distritos e nas comunidades há os THINK TANK locais, uns mais discretos e informais que outros. Temos que descobri-los! O mais importante agora é termos a capacidade de reunir as pessoas e os organismos mais vezes, absorvendo-lhes naquilo que têm de mais precioso, as ideias e a capacidade de gerir e organizar. O meu think tank situa-se do lado da Polana Caniço, CHEZ TEMBE, onde me encontro com meus amigos - Varela, Rui de Carvalho, Afonso, Chichava, Nunes Timba, Cuna e sonhamos juntos num Moçambique belo, próspero e competitivo.
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In Jornal Público ed.94,pag.06
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