quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Jornal do povo



Na edição de 01 de Novembro - nº 91, ousei e com muito prazer, convidar a não perdermos a oportunidade de desenhar planos de ruptura depois da brecha voluntariamente aberta pelo Presidente da República, ao proclamar uma geração da viragem.
Continuo a acreditar e a maioria vai concordar. Nós podemos mudar as instituições, as empresas, as comunidades, as províncias e mesmo o país inteiro.
Mas também reconheço que nada pode ser feito sem liderança proactiva e capaz, através de actos de influenciar a aceitação dos novos desafios, dando exemplos práticos e stabelecendo a confiança que garante maior adesão. BARRY WHITE - PRACTICEWHAT YOU PREACH.
No entanto, mesmo que a viragem seja possível, ela não acontecerá ao acaso, por sorte ou por magia.   A montante, exige-se diagnósticos, planos e recursos bem assim a análise do papel das pessoas:  suas relações - suas mentalidades - suas competências, em tanto que factores críticos do sucesso de qualquer iniciativa. Realizar diagnósticos, identificar as necessidades e os recursos, a cultura, as mentalidades; desenhar planos, mobilizar as pessoas para o trabalho, tudo isso exige aprendizagem e liderança. Daí a importância de se preparar as pessoas para este trabalho - a geração da viragem. Uma geração fundada numa visão sistémica para orientar a produção e em valores: nação, amor à pátria, família, cidadania, democracia, paz e trabalho, etc. Geração da viragem é composta, não simplesmente por jovens, mas por homens, mulheres e crianças dos 7 aos 77 anos!

Na edição pré-citada fiz referência ao Jornal do povo, o que provocou algumas reacções e receios. “Ó Rafael, pouxa! O que se passa contigo? Nos tempos de hoje, da globalização, vens aqui com teu JORNAL do POVO? pouxa!”

Mas não nos esqueçamos - um povo não pode se desenvolver sem olhar para a sua história. Do passado há muito que aproveitar, incluindo o próprio Jornal do povo. É que, os projectos exigem um sistema de informação e de comunicação eficaz, passando pelo uso de vários canais oficiais e informais. O “Jornal do povo”, apesar de todas as fobias que provoca por causa da caricatura do chiconhoca, do candongueiro e de todos os equívocos de então, renovado na forma e nos conteúdos, pode ser um canal válido. Aliás um excelente canal, por estar próximo das pessoas.

Afinal o que é a descentralização? Não é mesmo a liberdade e a possibilidade de levar às pessoas aquilo que mais necessitam? A informação, neste caso.
Para a instituição que dispõe de computador e de data show, ela só sairá a ganhar organizando um canto estratégico para projectar as notícias importantes, as actividades e as metas. Mas nunca nos aventuremos a pensar que a globalização e as NTICs que acompanham significam o fim do jornal do povo. Os media de maior circulação, oficiais ou privados, as rádios, as televisões etc, precisam de ser complementados e intermediados pelos jornais locais, pelas rádios comunitárias, etc. Era uma vez o XIRICO!
É que existe um grande défice de informação. O nível de educação sendo muito fraco, com a agravante do analfabetismo reinante, todas as condições estão criadas para que os escassos canais e fontes oficiais nunca cheguem ao bairro e às comunidades. Os jornais que circulam, claro, somente nos escritórios e nas grandes capitais, aparecem com letrinhas muito pequenas, quase ilegíveis. Imaginem só o esforço que Vovó Chadreque deve consentir para nos ler! 

O pior de tudo é que uma nova geração de jornalistas – os DOUTORES, não da Escola de Jornalismo, vem complicar as coisas, quando confundem a academia com o Jornal. Vem evoluindo desde algum tempo a esta data, algum estilo de jornalismo, pode até ser inovação, mas confunde-se o jornal com o livro escolar e com a tese de doutoramento, sob pretexto: “os meus alunos lêem”.
Jornal não é somente para nossos alunos, nem para pessoas da capital, mas sim para o povo. Perguntem o que me pediram os vendedores de carvão de Mandevo (Namaacha): “patrão tou pedir jornal”!
Escrevemos frases e textos muito longos. Nossos artigos não revelam nenhuma problemática, não têm a tese, antítese, nem as hipóteses. O plano da redacção não existe. Os conteúdos partem em todos os sentidos, de forma descosida. Aceita-se, mas convenhamos! Resultado ninguém ou poucas pessoas lêem, esses textos que não são nem crónicas, nem reportagens, nem apontamentos.
Evidentemente, é salutar e valioso que os DOUTORADOS estejam a escrever, mas devemos perceber que as pessoas, independentemente do nível de escolaridade, precisam de informações, e na medida do possível, de informações vulgarizadas, isto é, trocadas em quinhentas. Temos que rever os destinatários da mensagem, os conteúdos, a maneira de tratar, a linguagem, e extensão dos textos, sobretudo. Devemos reduzir o número de palavras de 900 à 700, até mesmo 500 por artigo. Capacidade de síntese exige-se. Só aquelas reportagens ou artigos altamente elaborados como da autoria de MAY BE MAN ou melhor TALVEZEIRO é que podiam exceder as 1000 palavras. Bravo! De resto é muita palha.
De rapaz acompanhei a afectação de muitos jovens nas fileiras. Alguns tornaram-se jornalistas de referência que ao longo dos anos trouxeram-nos notícias de qualidade, apesar de não serem DOUTORES. 

Muitos deles são agora licenciados. Parabéns! O matutino NOTÍCIAS também apareceu, neste fim do ano, com nova roupagem, conteúdos, e debates a que nunca antes nos tinha habituado. É uma verdadeira inovação! Formado também em ciências de linguagem e mentor do PÚBLICO, posso elaborar com substância sobre jornalismo para a maior vergonha dos que não queriam saber de viragem!

"Participe enviando textos e comentários sobre as diversas categorias neste espaço que é nosso"


In Jornal Público ed.93,pag.06

Sem comentários:

Enviar um comentário