Nos finais da década de 80, quando proeminentes estudiosos em ciências da administração intensificaram pesquisas em torno da importância do conhecimento como factor primordial de competitividade e crescimento, nascia “a gestão do conhecimento” como campo de estudo científico.
Nessa altura, o mundo académico alertou para as possíveis derivas de um efeito de moda, sem real interesse para a vida das organizações e pessoas. Por minha parte não gostaria de cair na tentação de um snobismo intelectual, andando a cantarolar a torto e a direito sobre a importância do conhecimento sem trazer à superfície o que mais nos interessa.
Se muitas vozes se insurgiram contra as medidas propostas pelo executivo para fazer face à crise global: alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos, queda do Metical face às divisas estrangeiras, etc, proporcionalmente muitas vozes não tardaram a saudar a decisão do governo moçambicano no dia 07 de Setembro, anunciando a manutenção dos preços dos produtos básicos em resposta à onda de manifestações que abalaram, principalmente, as cidades de Maputo e Matola.
Estas manifestações saldaram-se em perdas irreparáveis, treze mortos, duas centenas de feridos, além de severos danos à economia com a destruição de bens públicos e privados, perdas avaliadas em 150 milhões de Meticais cujos efeitos se farão sentir por mais algum tempo ainda.
A fraca produção nacional, o elevado índice de desemprego e a pobreza levam-nos a prognosticar que as populações mais desfavorecidas continuarão por mais algum tempo a ressentir-se dos efeitos da crise financeira e da alta dos preços, apesar das medidas de austeridade tendentes a minimizá-los.
A decisão do governo de manter os preços como estavam até 01 de Setembo me parece um ponto de partida para criarmos as bases de um diálogo participativo no qual cada um possa ter a oportunidade de se posicionar expressando e expondo ideias, expectativas, receios e limites. Neste contexto, a capacidade de aprendizagem, tanto individual como organizacional, surge como uma alavanca bastante segura para reformularmos as nossas intervenções, adequando-as às realidades que se impõem.
Povo de Moçambique, honrados governantes, estabelecimentos públicos e privados, sociedade civil, actores do desenvolvimento preocupados com o nosso bem estar, neste combate contra a pobreza, o nosso país não se pode dar ao luxo de contemplar repetidamente seus erros. Há que aprender para saborearmos um dia as vantagens do sucesso. Não significa com isto que sonhamos estar completamente livres dos problemas e das crises.
Nenhuma sociedade se constrói num mar de rosas. Antes, pelo contrário, é fundamental que aprendamos a conviver com as crises, os desastres, tentando minimizar seus impactos através da nossa capacidade de aprender. Aprender é saber observar, colectar dados, decifrar os sinais dos ruídos, interpretar as informações, transformá-las em conhecimentos, aplicar os conhecimentos em novas soluções, inovações e aprimorar continuamente o trabalho. Aprende-se com o passado, com o presente, aprende-se também e, sobretudo, perspectivando o futuro. Aprende-se tanto com os sucessos, como com os fracassos.
Mas os erros não se devem repetir frequentemente. Os processos engajados desde a independência, a crise financeira global, o 05 de Fevereiro, os recentes acontecimentos do mês de Setembro estão gerando uma série de conhecimentos que precisam de ser geridos.
Estes conhecimentos desvendam oportunidades, despoletam ameaças, exigindo a adequação das políticas e a criação de um ambiente favorável para a criação de emprego, aumento da produção e produtividade, factores sem os quais jamais saíremos da crise.
Se quisermos fazer a viragem com sucesso, isto é, mudarmos o estado das coisas rumo à melhoria sustentável da qualidade de vida, não existe caminho melhor do que nos tornarmos organizações que aprendem. Organizações que aprendem não reagem somente quando há crises: são proactivas, isto é, antecipam as coisas. Elas estão permanentemente atentas às informações, criam novos conhecimentos, avaliam novas oportunidades e riscos, protegem o património, mobilizam recursos e a inteligência das pessoas na construção de projectos sustentáveies.
"Participe enviando textos e comentários sobre as diversas categorias neste espaço que é nosso"
In Jornal Público ed.85,pag.14
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