quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Não confundir benchmarking com turismo de luxo


 Os desportistas no geral e os treinadores de futebol, em particular, são bons a viajar para observar jogos de seus adversários ou das melhores equipas para, de seguida, se organizarem de modo a aprimorar as suas próprias equipas na forma de jogar e de obter melhores resultados.
Com as equipas de futebol, os resultados são geralmente tangíveis e verificáveis. A táctica de jogo tende a mudar para o melhor, a performance dos jogadores é admirável na medida em que defendem bem, marcam golos e ganham campeonatos.
Do mesmo modo, as organizações inteligentes, independentemente do tamanho e do ramo de actividades, observam sistematicamente as melhores práticas de gestão, enviando regularmente os seus quadros e representantes em visitas de estudos pelo mundo fora. Há, nisto, o reconhecimento de que a mudança e a inovação não implicam necessariamente descobrir, pessoalmente, novos produtos ou métodos, mas sim, a capacidade de aprender com aqueles que se revelam  melhores em determinados aspectos que interessam a nossa organização.
No entanto, o exercício de observação de práticas, ditas excelentes, exige o respeito de um determinado número de princípios e não pode, de forma alguma, servir de pretexto para um passeio turístico de luxo que não traga em retorno os dividendos que se podem ganhar com esta natureza de operações.
O benchmarking, se usarmos a gíria empresarial, exige, em primeiro lugar um balanço interno sobre os sectores, produtos ou serviços que necessitam de mudanças. Exige, seguidamente, a elaboração de um plano sobre o que se pretende observar, bem como a selecção das organizações ou, nalguns casos, dos países que apresentam melhores resultados nos domínios a estudar. A operação de observação realiza-se normalmente em coordenação com organizações congéneres ou parceiras dispostas a nos receber para uma visita de troca de experiências. Finalmente, de regresso à empresa, no país de origem, coloca-se o imperativo de se desenhar um plano de acção adaptado à situação. Este plano deve ser implementado e constantemente monitorado para se avaliar o nível de progressos alcançados na sequência da visita de troca de experiências.
Para surtir efeito, isto é, produzir os impactos desejados, a organização que lança um plano de mudanças a seguir à observação de melhores práticas, deve estar estruturada e montada para aprender. Acima de tudo, ela deve estar montada para aprender a introduzir mudanças em sua política, em seus produtos, em sua cultura, em seus procedimentos.
Se a organização não estiver preparada para engajar mudanças, provavelmente, não vale a pena gastar balúrdios em viagens para cima e para baixo. Em contrapartida, as viagens de troca de experiências, quer sejam de alto nível, de nível intermédio ou técnico, é fundamental que estas obedeçam a um verdadeiro plano de aprendizagem e de mudança a partir do qual possamos medir os progressos alcançados em nossas instituições e sectores de actividade.
Ainda é comum ver pessoas que viajam todos os anos para os mesmos países sob pretexto de transferência de conhecimentos e tecnologias. Ainda é comum ouvir pessoas que viajam em missão pelo mundo fora afirmar que vão para uma curtição ou que estiveram em tal e tal país do mundo numa boa, enquanto era suposto trazer de volta melhores práticas de gestão.
Evidentemente que é sempre oportuno aliar o útil ao agradável. Quando viajamos é momento de desfrutar da vida, visitar monumentos e aproveitar no máximo, mas não se pode confundir turismo de luxo com visita de observação de melhores práticas.
Temos que começar a cobrar os resultados das visitas que nossos chefes e nossos técnicos vão fazendo pelo mundo fora. Para quê manter uma equipa com jogadores que não marcam golos e só gastam os nossos míseros recursos? De que nos vale manter uma equipa que não ganha? Se até a expressão “não se mexe em uma equipa que está ganhando”, que era considerada uma verdade inquestionável por muitos, está deixando lugar hoje a outra expressão mais válida que é: Se a equipa está ganhando mude-a para que continue sendo vencedora!

"Participe enviando textos e comentários sobre as diversas categorias neste espaço que é nosso"


In Jornal Público ed.97,pag.06

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